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Não somos minoria! Juíza da Vara de Família fala sobre a importância da luta pelos direitos das mulheres

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(Foto: Bianca Brito/Netshare Marketing Criativo)

Doutora, Juíza da Primeira Vara de Família de Bauru, mãe e mulher. Ana Carla Criscione dos Santos é, sem rodeios e acima de tudo, mulher. Em cima de um salto alto e ostentando inteligência e conhecimento, a Dra. nos recebeu para provar que a mulher pode e deve ter lugar de destaque no mercado de trabalho sem perder sua feminilidade. O mercado, por sua vez, agradece a competência e a segurança dessa nova geração de mulheres prontas para surpreender. Confira!

Como a senhora vê a evolução dos direitos da mulher na sociedade e o que ainda falta ser garantido a ela?

A evolução dos direitos da mulher na nossa sociedade foi rápida apenas no último século. Eu vejo que nós passamos toda a história até o começo dos anos 60 quase que da mesma maneira, valíamos o mesmo que uma cabeça de gado. Depois foi melhorando e as mulheres começaram a ter alguma relevância no mercado de trabalho, até mesmo por causa das grandes guerras mundiais onde muitos homens morreram. Nesse contexto, a mulher precisou começar a trabalhar. No Brasil esse reflexo foi muito pequeno e nós só ganhamos um pouco mais de autonomia no começo dos anos 60, quando teve a Revolução Sexual e também por força do que aconteceu no exterior. Porém, isso foi uma revolução de 50 anos pra cá. Se você comparar a vida de uma mulher que foi jovem em 1960 e de uma jovem de hoje, é completamente diferente. A mulher hoje não é mais educada para se casar, para ser dona de casa, para ser aquela moça prendada. Só que o modo com que os homens respeitam e encaram a mulher não mudou muito. A mulher acumulou muitas atividades, foi atrás, buscou respeito fora do lar, ganhou seu sustento, criou os filhos, cuidou da casa e até fez questão de desaprender a cozinhar e costura – o que eu acho errado, porque dá pra conciliar as duas coisas -, mas muitas vezes não é respeitada dentro de casa. E aí a gente vê o reflexo aqui nas Varas de Família. Muitas vezes, mulheres renomadas e respeitadas profissionalmente vivem um conflito dentro de casa igual à dona de casa do subúrbio. Essa questão da dominação masculina pelo machismo é uma coisa que nós temos ainda que vencer. O homem, por ser mais forte fisicamente, ainda tem essa cultura da dominação, do “é meu, é minha, eu domino, eu mando”.

É possível sentir que agora as mulheres não sofrem mais caladas, elas realmente se posicionam e denunciam?

Sim. Hoje em dia, principalmente por causa do amparo da Lei Maria da Penha, as mulheres denunciam e buscam o apoio da autoridade para se verem livres da opressão. Às vezes, por medo que um mal maior aconteça, ao primeiro sinal de desequilíbrio ou de agressão, a mulher já busca um amparo da polícia ou do judiciário para evitar, temendo que isso vire uma agressão maior. E o que a gente vê também é que quando as mulheres chegam a trazer isso ao conhecimento da Justiça é porque chegou em um nível de insuportabilidade. Na maioria das vezes, as mulheres tendem a preservar a privacidade, não gostam que a coisa venha à tona.

Como a senhora vê a necessidade de existir uma proteção diferenciada e voltada para a mulher?

Eu vejo com um certo pesar porque eu não gosto muito dessa história de Dia Internacional da Mulher. Claro que é uma data a comemorar, mas só a minoria tem data comemorativa. É o Dia da Mulher, Dia do Índio… e, então, a gente tem que se considerar uma minoria? Nós não somos. Somos a maioria no mercado de trabalho hoje, nas universidades… Isso não quer dizer que vamos dominar o mundo e fazer disso aqui um matriarcado, mas dá para os dois gêneros viverem pacificamente e se respeitarem. Porém, essa proteção mais forte para a mulher é necessária porque, apesar de sermos a maioria, ainda há uma certa discriminação em relação à capacidade intelectual, aos salários, à divisão de responsabilidades no lar e outras coisas. Uma legislação apoiando é essencial para que essa mulher, que muitas vezes está em uma situação de opressão e dominação, se desvencilhe disso tudo.

O número de divórcios aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Nesse contexto, a guarda compartilhada fere o direito da mãe ou é um passo em direção a igualdade?

A cada 100 casamentos realizados, 50 acabam. Apesar disso, essas pessoas voltam a se casar, continuam acreditando nos relacionamentos. A guarda compartilhada é uma solução para assegurar o convívio dos filhos com os dois genitores no caso de um divórcio. Antes, o que ocorria era que um dos genitores ficava com a guarda exclusiva e usava essa criança como instrumento de dominação e chantagem em relação ao outro. Essa lei, entretanto, precisa ser bem trabalhada e divulgada porque não adianta ser publicada e não acontecer nada. O pensamento das pessoas precisa mudar. O compartilhamento da guarda depende de um diálogo entre os pais. Não pode existir decisões unilaterais, tudo tem que ser conversado. Porém, eu me questiono e penso muito nisso porque se o casal se separou é porque não conversava. Então, como vai conversar agora, com ânimos acirrados, ressentimentos e mágoas? Pode até ser necessário buscar ajuda de um profissional, um psicólogo ou um mediador, mas a guarda compartilhada é possível, deve ser buscada e é o ideal.

Qual o papel dos sindicatos e dos movimentos sociais na defesa dos direitos da mulher?

Os sindicatos têm toda a importância. O Dia Internacional da Mulher surgiu por causa de um movimento nos EUA em busca de melhores condições de trabalho. Então, os sindicatos protegendo os direitos trabalhistas acabam por assegurar também os direitos femininos, como uma jornada de trabalho justa, a proteção do direito de amamentar enquanto há a necessidade, a licença maternidade etc. O que eu falo sempre é que não dá pra tratar a mulher igual ao homem e nós mulheres não devemos buscar isso. Nós não podemos bradar bandeiras de direitos iguais aos dos homens porque somos diferentes. E se for ver, nós temos mais direitos ainda, como a licença maternidade, o direito de amamentar nosso filho durante um período e etc. Os sindicados e outros movimentos, então, têm essa importância porque a união de pessoas faz com que o pensamento ganhe força.

Texto: Mayara Castro/Jornalista na Netshare Marketing Criativo

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