(Foto: Bianca Brito/Netshare Marketing Criativo
Adriano Fabri é economista há 22 anos e especialista em Administração de Empresas. Dedica-se à educação empreendedora e à capacitação de equipes há quase duas décadas e já ajudou milhares de empreendedores e homens de negócios a alcançar suas metas e objetivos. Em momentos de turbulência como o que o Brasil passa, Fabri analisa o cenário nacional e aponta grandes oportunidades que deixamos de enxergar. Confira!
Como você vê a influência do cenário nacional na realidade econômica das empresas da nossa cidade?
Por ter uma economia sustentada pelo comércio e pela prestação de serviços, Bauru é uma cidade que segue o ritmo da média do Brasil. A cidade nunca passa por crises profundas de um único setor como, por exemplo, Jaú ou Franca, que no momento em que o segmento de calçados vai bem, a economia da cidade prospera e quando o segmento vai mal, a economia da cidade sente drasticamente. Em 2014 o crescimento do PIB bauruense (tudo que é produzido e vendido internamente) acompanhou o ritmo do PIB nacional. Em 2015 a queda do PIB foi um pouco maior segundo o SEAD. Portanto, na média, Bauru segue o compasso da economia nacional.
O Brasil possui condições de restabelecer os níveis de produção e emprego da última década?
Será uma recuperação que deverá começar somente a partir de 2017 e, mesmo assim, levaremos anos para atingir os níveis que estávamos e ainda mais tempo para atingir os níveis que deveríamos estar. A economia (PIB) deve encerrar este ano aproximadamente 16% menor do que deveria. Considerando que vínhamos crescendo em torno de 3%, para recuperar estes níveis não vai ser rápido, mas dizer que não é possível é dizer que deixamos de acreditar num país com tamanho potencial e que possui, na sua grande maioria, pessoas e empresários sérios e comprometidos. Há muito o que ser feito no pais em termos estruturais. Tudo que fica represado durante a crise precisa dar vazão no momento de recuperação. Portanto, com uma política econômica séria que priorize as contas do país e a economia e não o populismo e o poder, a economia voltará a crescer e, no período pós crise, será à altas taxas.
De que forma os empresários devem agir em momentos de instabilidade política e econômica?
Nos momentos em que o mercado desacelera, o empresário tem a oportunidade de promover mudanças importantes no seu negócio como, por exemplo, repensar sua estratégia, rever a qualidade do seu produto, melhorar suas ferramentas de gestão, qualificar sua equipe e até mesmo fazer os investimentos necessários. Algumas empresas tem feito exatamente isso e são elas que estarão totalmente preparadas para a retomada da economia. Infelizmente, a maior parte dos empresários faz exatamente o contrário. Em momentos de euforia econômica, gastam sem muito critério e sem muito planejamento. Durante a turbulência, cortam gastos mesmo sem precisar, gerando uma crise ainda maior e cavando sua própria sepultura. No momento em que a economia voltar a crescer, quem estará mais preparado será quem, de uma forma geral, melhorou o seu negócio e cortou tudo o que era possível. Não é difícil prever que as empresas que se prepararam vão retomar o crescimento mais rápido e de forma mais significativa, além de tomar o mercado das que “apostaram” na crise.
Os trabalhadores também devem mudar sua forma de atuação profissional?
Evoluir e repensar. Essa é a ordem do momento. O mesmo que vale para o empresário ou para uma empresa vale para um trabalhador. Afinal, como trabalhadores, somos uma pequena unidade de produção. A empresa tem que ter um bom produto e um bom serviço agregado e o trabalhador tem que ter competência técnica na área que se propõe a atuar. Precisa gerenciar finanças, cuidar da sua imagem, administrar sua carreira, melhorar sua qualificação, ou seja, é a mesmo que uma empresa tem como tarefa.
Em várias empresas, no primeiro sinal de crise, o equilíbrio vem através da redução da folha de pagamento. Essa é uma boa atitude empresarial?
Não, essa é uma péssima estratégia. Matéria-prima é a mesma para toda empresa. Máquinas e equipamentos na maioria dos casos são os mesmos. Portanto, a equipe é a maior possibilidade que uma empresa tem de se diferenciar das demais. Na minha visão como consultor de empresas, esse deveria ser o último ajuste a ser feito. A empresa deve cortar tudo que é possível, conscientizar a equipe do que de fato está acontecendo e estabelecer metas a serem alcançadas. O trabalhador pode e deve ter a chance de ajudar a empresa a se recuperar antes de ser dispensado. Muitas vezes, as melhores soluções vem da própria equipe. Na visão de economista, cortar mão de obra resolve o problema somente a curto prazo.
Qual o papel dos sindicatos para equalizar a defesa do emprego e dos direitos dos trabalhadores?
Essa pergunta é incrível mas, antes de responder, quero parabenizar o SEAAC e seu presidente pelo modelo de gestão diferenciado e por esse jornal, que é uma iniciativa para levar conhecimento e visão diferente para os trabalhadores e empresários. Defender a parte legal de todo esse processo, sem dúvida é importante, mas é o mínimo que um sindicato pode fazer nesse momento. Na minha visão, o Sindicato deveria estar ao lado do empregado no processo de conscientização e capacitação da equipe e do próprio empresário, afinal de contas, o objetivo é o mesmo, pois nenhum empresário sente prazer em dispensar parte da equipe. O trabalho daqui pra frente deve ser ao lado e não em lados contrários. Com todas as responsabilidades do empresário da micro e pequena empresa, que gera a maior parte dos empregos na nossa região, todo apoio é sempre bem-vindo. É preciso lembrar que estamos no mesmo barco e um barco não afunda por partes.
Texto: Mayara Castro/Jornalista na Netshare Marketing Criativo